Roubado de
mochilasobrerodas Garota Enrolada em Fios em 04/10/2009
All the lonely people, where do they all come from?
Diversos
Andei observando pessoas solitárias. Mas diferente da música das Beatles, não citarei Eleonor Rigby ou Padre McKenzie, e sim uma jovem de seus vinte e poucos anos, ainda cursando faculdade, estagiária, bem naquela fase em que se deve doar para garantir uma colheita generosa mais para frente.
Todos os dias Isabel levanta cedo, e como todos os fu#@%$ da região, leva mais de 2 horas de ônibus para chegar em seu destino. Terminada as aulas na faculdade, corre para seu estágio onde se emburaca no canto do refeitório e empurra goela a baixo as pressas à comida que trouxe cuidadosamente de casa, para depois se ajustar em sua solitária baia e ficar por lá pelo resto do dia.
Quando dá seu horário, sai novamente em direção ao ponto de ônibus e leva pelo menos umas 3 horas para chegar em sua casa, destino final.
Não pude deixar de observar que como todos aqueles que tem esse hábito de viagem em sua rotina, ela carrega em sua maxi bolsa um aparato para combater a monotonia da viagem e a falta do que fazer, como os já largamente citados livros, Ipods, revistas, smartphones e afins, na tentativa de cobrir o vazio.
Interessante, porém, foi notar que tais objetos eram usados em diferentes momentos de sua solitária rotina, como na hora do almoço ou simplesmente quando tinha que se deslocar de um ponto ao outro. Tornou-se dependente de tudo aquilo que evitava se sentir sozinha.
Em uma cidade como o Rio de janeiro, com pessoas saindo pelo ladrão, é possível existir pessoas tão solitárias?
All the lonely people, where do they all belong?
Dando uma olhada mais detalhada, pude perceber todas as suas tentativas de mascarar a solidão que invariavelmente bate em alguns, e com mais freqüência em outros. Mesmo quando se está cercado de gente, de amigos, ou até mesmo quando estamos casados ou namorando.
Em um mundo em que se cobram tanto que sejamos feliz, eu me pergunto, por que é tão difícil ser feliz com a gente mesmo, e por que de alguma forma, depositamos nossa felicidade em alguém?
Isabel passou então a sempre ligar para uma amiga que trabalha perto e que às vezes seus horários de saída cruzavam, permitindo voltarem juntas para casa. Tornou então um hábito ligar para a amiga sempre que os dias de saídas coincidiam, mesmo quando estava muito cansada e preferiria ir sozinha dormindo. Mas ela sabia que normalmente fazia tudo sempre tão sozinha que não queria desperdiçar aqueles momentos de companhia.
Enquanto isso, por toda a parte da cidade, existe pessoas receosas de terminar um relacionamento fadado ao fracasso pelo puro medo da solidão. Outros não cogitam a idéia de almoçar sozinho em um restaurante, ou simplesmente ir ao cinema sem a presença de amigos.
Isabel sabia que era uma delas e resolveu levar seu medo para passear.
Assim como Padre McKenzie, ontem Isabel se arrumou com um traje que ninguém mais ía ver. Se dirigiu ao shopping e fez compras sem perguntar a opinião de ninguém. Foi assistir a um filme e comprou bilhete para uma pessoa. Saiu do cinema guardando os comentários do filme que ninguém ía ouvir. Vagou mais uma vez pelos corredores insanamente lotados do shopping e se abrigou na mesa de um restaurante.
O garçom veio anotar seu pedido e naturalmente perguntou se esperava por alguém.
Prontamente ela respondeu: - não, sou só eu.
E ali Isabel ficou sentada, sem livros, sem MP3s, sem amigos ou namorado, sem armadura, sem fingimento. Só ela.